quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Geologia está entre as carreiras mais valorizadas

A retomada dos investimentos em infraestrutura mantém a geologia no grupo das profissões mais promissoras do país, ainda que a economia brasileira esteja atravessando uma fase de desaceleração. A tendência para os próximos anos é de expansão da oferta de vagas nessa área, que será favorecida pela maior inversão em obras de grande porte. Levantamento feito pelo Correio mostra que a procura pelo curso de geologia aumentou 53% este ano em comparação a 2008.

Especialistas afirmam que a crescente demanda deve-se ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), formado por projetos de obras de grande porte do governo federal. Entre esses projetos, figuram a exploração da nova reserva de petróleo da camada pré-sal e os demais projetos como construção de hidrelétricas, abertura e recuperação de estradas e de linhas férreas, ampliação de portos, urbanização de cidades e obras de saneamento básico.

Estimativa da Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo) aponta que existem perto de 11 mil geólogos na ativa. “Necessitamos de 50 mil”, diz o presidente da entidade, Nivaldo Bosio. Formado em geologia pela Universidade de São Paulo (USP) em 1963, Bosio praticamente acompanhou a evolução da profissão no país. Ele reforça que o emprego na área tende a aumentar a partir das decisões do governo de reforçar o investimento público em grandes obras. “Com o PAC, os geólogos estão sendo acionados. E também tem muita gente se aposentando pela Petrobras”, diz ele ao lembrar de uma importante opção de trabalho. “Conheço quem ganhava R$ 4 mil e depois mudou de empresa, recebendo R$ 12 mil.”

Na Universidade de Brasília (UnB), a procura aumentou 83% do segundo vestibular de 2008 para o primeiro de 2009. O diretor do Instituto de Geociências da universidade, Paulo Roberto Meneses, comenta que a dependência da China de metais existentes no Brasil, como o minério de ferro, forçou a ampliação da pesquisa geológica. “Isso aumentou a procura por geólogos no campo, o que levou bastante jovens a procurarem o curso”, informa.

Embora considere que a atividade da mineração passará por um período de escassez de créditos por parte dos bancos devido aos efeitos do desaquecimento global, Meneses enxerga uma esperança na área de exploração. “Se a Petrobras mantiver os planos de investimento no pré-sal, será preciso mais geólogos”, aposta. “Nos últimos três anos, 90% dos nossos formandos foram contratados”, reitera.

Petrobras
Um exemplo do aquecimento desse mercado de trabalho é a brasiliense Bárbara Morais Nascimento. Recém-formada pela UnB, ela foi aprovada em concurso da Petrobras antes mesmo de se graduar. “Do início do meu curso até a metade de 2008, o mercado estava absorvendo bom número de pessoas formadas”, pontua ela, que atualmente participa do curso de formação técnica no Rio.

Na edição 2008 desse concurso da Petrobras, foram abertas 50 vagas para a área e foram chamados 75 pessoas. A gerente de Planejamento de Recursos Humanos da Petrobras, Mariângela Mundim, atesta que a carreira será largamente solicitada nos próximos anos pela companhia, que dispõe hoje de 975 empregados nesta área. O salário inicial é de R$ 5.350. A geologia é o segundo posto técnico com mais vagas na empresa, perdendo apenas para engenharia. “Temos uma demanda constante para esse cargo, pois essa é uma área nevrálgica para nós”, acrescenta.

Para Ricardo Latgê, diretor da estatal, a profissão vem ganhando destaque desde a última década. “De 1990 a 1999, quase não houve contratação de geólogos pela Petrobras. Hoje, há uma preocupação de renovação de novos quadros e a descoberta do pré-sal exigiu um investimento maior”, conclui.

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que possui um dos cursos de geologia mais reconhecidos no país, a relação candidato/vaga aumentou 178% em comparação ao ano passado. Esse acréscimo veio acompanhado do salto no número de candidatos a uma das 30 vagas da área, que passou de 419 em 2008, para 700 em 2009. A opção geologia perdeu em concorrência apenas para medicina.

Mas foi a Federal do Mato Grosso (UFMT) que liderou a lista das universidades mais procuradas, com alta de 157% no número de inscritos. A notícia surpreendeu o diretor do Instituto de Geociências da UFRJ, João Graciano Mendonça. “A abertura do mercado contribuiu para termos mais alunos”, comenta.

O professor esclarece que, devido à recente descoberta de uma grande reserva de petróleo no país, foi firmada uma parceria no ano passado entre a UFRJ e a multinacional francesa Schlumberger, que atua no ramo de petróleo. Dentro de dois anos será construído no campus da universidade fluminense um centro de pesquisa de extração de petróleo em águas profundas.

Para Graciano, os investimentos governamentais em infraestrutura são uma importante forma de propaganda para atrair jovens interessados pela profissão. E apesar do recente baque na economia brasileira já ter gerado milhares de demissões, ele dá uma amostra da boa fase da carreira de geólogo: “Ainda não ouvimos falar em desemprego no Rio de Janeiro para esses profissionais”, observa.

Chances na mineração
Neste campo de atuação, a profissão se valorizou com a forte alta internacional das cotações de minerais metálicos desde 2006. Com base em dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) é possível notar uma explosão do preço internacional destes metais. A tonelada de zinco, por exemplo, saiu da casa dos US$ 24.233 em 2005, para valer até US$ 37.202 em 2007. Com a crise, outros minerais como chumbo, níquel, cobre e estanho despencaram de preço.

“O aumento nos preços dos metais fez com que os depósitos desses minerais fossem interessantes. Isso provocou uma demanda absurda por geólogos”, descreve Gustavo Melo, coordenador operacional da Agência para o Desenvolvimento da Indústria Mineral Brasileira (Adimb). Ele explica que, no país, os segmentos de petróleo e mineração concentram cerca de 80% das contratações no setor.

A eventual dispensa desses profissionais, na atual fase de desaceleração do ritmo de crescimento, preocupa a indústria de mineração. A Vale comunicou que não houve desligamento desses profissionais na última demissão em massa de 1.300 funcionários feita em dezembro. A categoria é considerada estratégica para a empresa. Atualmente, existem 235 geólogos trabalhando na mineradora no Brasil, onde há uma contratação média de 32 profissionais por ano. A assessoria de imprensa da companhia informou que “há certa dificuldade em absorver geólogos, devido ao baixo número de profissionais formados a cada ano”.

Desde o ano passado foi criado o Programa de Especialização Profissional, em parceria com a UFRJ, para admissão de geólogos e engenheiros nas áreas de engenharia portuária, ferroviária e mineração. Ao longo de 2008, foram formadas oito turmas com 330 pessoas, das quais 10% no segmento de geologia. Esse curso é feito mediante exame seletivo e oferece bolsa inicial de R$ 3 mil para os aprovados.

No DNPM, geólogo é cargo vital. Até 2006, havia 20 anos que a autarquia não realizava concurso público. No referido ano, foram admitidos 44, o elevou para 144 o quadro de geólogos do órgão, com salário de R$ 2.906. A asssessoria do DNPM avisa que será aberto outro processo seletivo esse ano, ainda sem definição de vagas ou data de publicação do edital.

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